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25 anos de Fresno: celebrando metamorfoses

  • Juliana Andrade
  • 26 de abr.
  • 6 min de leitura

Atualizado: há 3 dias

Eu nunca fui embora, mais do que título de um álbum e nome de uma música, é um testamento de que a banda Fresno veio para ficar – e nunca foi embora. Com a grande ascensão nos anos 2000, quando conquistaram os emos de carteirinha com letras melancólicas e arranjos fortes, o trio se reinventou em meio às metamorfoses musicais do tempo, e, hoje, continuam o legado de quase 3 décadas de carreira com um rock cada vez mais Fresno e declaram uma identidade que nunca está parada no mesmo lugar.


O álbum, cuja parte 1 foi lançada em abril do ano passado, recebeu, este mês, uma repaginada. No deluxe, além das canções que cativaram na primeira versão, com feats de artistas como Pabllo Vittar, NX Zero, CATTO e Chitãozinho & Xororó, os fãs foram presenteados com versões acústicas e ao vivo das faixas prediletas, marcantes tanto para  o público quanto para os integrantes, Lucas Silveira, Gustavo Mantovani e Thiago Guerra.


Ao longo das músicas, podemos presenciar de perto a permanência do trio, ainda que no meio de tantas impermanências. Letras sobre amores que fracassaram e outros que perduram diante do drama e da paixão resgatam o carimbo emo de sempre, mas com o frescor de um som dedicado, que dá espaço à intimidade, à reflexão diante de si mesmo e do mundo ao redor. Ao ouvir, é fácil notar o toque e a presença dos integrantes no que chegou até o disco, dos arranjos às líricas, e isso torna a experiência algo além da sonoridade, beirando o confidencial.


A reinvenção pode ser uma tarefa árdua com as pressões da indústria musical, entretanto, para eles, a passagem do tempo foi uma influência que agiu naturalmente diante do que produzem. Aqui, vemos – e ouvimos – a Fresno de sempre, mas também a Fresno de hoje e de amanhã, numa celebração à longa carreira e tudo que construíram ao longo dessas transformações.


Em comemoração ao primeiro aniversário do disco e aos 25 anos da banda, o vocalista Lucas Silveira conta à Guilhotina um pouco mais sobre como é se transformar em cada trabalho e relembra com carinho a companhia contínua dos fãs.


Lucas, como você enxerga a companhia constante dos fãs, mesmo com o passar do tempo e as diferentes metamorfoses da Fresno?


Nós já tivemos muitas marés de fãs e eu acho que o que não muda é essa entidade viva que é o fandom e que a gente entende também dentro desse tempo que vivemos como banda. E nós também, o tempo que vivemos sendo fãs de outras bandas, exemplo, quanto tempo conseguimos dedicar para uma banda que somos fãs e por quanto tempo seguimos sendo fãs. É um fanatismo que vem em ondas. Às vezes nós estamos em uma fase que não não é a mesma da banda que gostamos e isso não quer dizer que deixamos de ser fãs. Eu percebo que nossos fãs são assim: tem muita gente que às vezes gosta e simpatiza, mas que não necessariamente está ligado no que está acontecendo. Também existe aquele fã que está em uma fase de se dedicar a fundo na banda que ele gosta. Com o tempo, percebemos que as vezes os fãs mudam, mas nós sempre tivemos eles. Querendo ou não, eles são voz e presença. Por ser cronicamente online, estou sempre vendo o que as pessoas pensam, acham… e principalmente, o que elas estão fazendo com a nossa música.


fresno eu nunca fui embora

Fresno por Camila Cornelsen


Os feats são um dos pontos altos do disco, sem dúvidas. Quais são outros artistas que vocês sempre quiseram trabalhar juntos e gostariam de dividir faixa nos próximos trabalhos?


Os feats sempre surgem porque existem artistas que a gente admira absurdamente e que ficam naquela coisa: “Nossa, vamos fazer um feat com essa pessoa!”. Mas é muito importante também que surja a música e eu acho que não é ter qualquer artista em qualquer música. Normalmente, os feats da Fresno aconteceram quando a gente fez uma música. E a partir daí surgem as carinhas “Putz, essa música aqui é a cara da Pabllo Vittar”, “Essa música aqui é a cara do Emicida”, “Essa música aqui é a cara do Caetano Veloso, vamos chamá-lo”. Nós chamamos as pessoas com base nas músicas que criamos.


Ano passado, no festival Turá, a banda cantou Disk Me junto com Pabllo Vittar. Por meio do álbum, esse cover veio às plataformas e encantou o público. Quais outras músicas de “sofrência” ou que não são necessariamente de rock vocês gostariam de fazer cover também?


Existem várias músicas nessa sofrência brasileira que encaixam muito com o nosso som. Isso ficou óbvio desde que a gente fez o estúdio Coca-Cola com o Chitãozinho e Xororó, em 2008. Naquele momento, já era óbvio que a faixa Evidências ficava bem no nosso arranjo, assim como as nossas músicas ficavam boas em um arranjo mais sertanejo. Então, sempre tem essa ideia de trazer mais coisas, às vezes, de um repertório que não é nosso. É legal dar tempo ao tempo. Mas existem outras faixas que não são necessariamente sofrência e que ficaria maravilhoso na versão Fresno, por exemplo, Olhos Nos Olhos da Maria Bethânia ou Fera Ferida no arranjo do Roberto Carlos ou da própria Bethânia. Elas fizeram muito sucesso, mas hoje as pessoas não se lembram tanto e poderiam muito receber uma nova roupagem. Não porque temos o compromisso de fazer essas músicas ficarem mais conhecidas, mas simplesmente porque é massa. E o que nos guia muito na nossa criação é a vontade de fazer um negócio que nos orgulhamos.


"Eu acredito que pela primeira vez

o futuro da banda está bem nítido."


Os shows e o contato com os fãs criaram, depois de quase 3 décadas nos palcos, um relicário de histórias e emoções, e as versões live reforçam essa sensação de catarse, principalmente na turnê atual. Que tipo de memórias você guarda dos momentos que a banda colecionou nesse tempo? Tem alguma que vez ou outra você se recorda com mais clareza e carinho?


Tiveram muitos momentos que marcaram, é difícil até de dizer, mas teve uma coisa bem crucial que foi durante a pandemia, em que nós tivemos que nos resguardar. A Fresno ficou mais de dois anos sem pisar em um palco. Começamos a ter a necessidade de fazer lives e conversar com o nosso público mesmo não podendo fazer os shows. Durante a pandemia, nós fizemos um disco quase todo em live. Os fãs achavam que estávamos apenas criando qualquer coisa, mas no fundo estávamos trabalhando em faixas do disco sem as pessoas saberem. Nas lives também conseguimos firmar ainda mais a nossa relação com o nosso público, tanto que, pós pandemia, nos vimos como uma banda maior e, apesar de ter sido durante um momento de muita tragédia sanitária e humanitária, nós conseguimos encontrar formas de ficarmos esperançosos pelo futuro e pelas pessoas. Fizemos algumas lives que foram muito grandes e que eu guardo o momento com muito carinho.


De que forma você visualiza o futuro da banda no novo cenário da música brasileira, em que o rock e a musicalidade se redescobrem cada vez mais?


Eu acredito que pela primeira vez o futuro da banda está bem nítido. Eu acho que em outros momentos talvez não tenha sido tão nítido assim. Percebo que nós temos um público muito consolidado, engajado e interessado no nosso material e nas coisas que nós fazemos, mais do que nas coisas que a gente faz. Isso acaba me inspirando a fazer novos materiais e a pensar em como o público vai receber. Penso se eles vão sacar as referências e as coisas que nós estamos trazendo. Então, esses 25 anos, às vezes parece até que é menos, eu não consigo imaginar que tem 25 anos que fazemos isso, parece 10. Em contrapartida, eu consigo enxergar os próximos 25 anos. Nós estamos vivendo um momento muito bom como banda. Estamos conseguindo nos manter bem com o nosso trabalho, com os shows – que têm levado bastante gente. Mesmo com o mercado de shows aquecido, para nós está ainda melhor. É um momento muito positivo, permitindo com que realizássemos os shows do jeito que sempre quisemos, com toda a produção que sonhávamos. Além disso, esse movimento todo tem nos inspirado mentalmente, nos dado gás para compor mais e criar mais coisas novas. Então, estamos bem animados com o que vem pela frente – e, dessa vez, esse futuro está bem claro pra gente.


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