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BatuQ DelUs: entre batuques e resistências

  • Lívia Coelho
  • 5 de abr.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 10 de abr.

O grupo BatuQ DelUs, formado exclusivamente por pessoas LGBTQIAPN+, faz história no Ceará. Hoje, te levamos em uma jornada pelos batuques transcestrais cearenses a partir da fala de alguns integrantes desse coletivo. 


Nascido em 2023, o grupo BatuQ DelUs surgiu, relata a integrante pe pePe, "a partir do encontro de algumas pessoas não binárias brincantes, que perceberam ter questões parecidas ao lidar com a aproximação das culturas populares". Elu ainda relata que o grande motivador para a existência do coletivo adveio da "necessidade de se expressar e brincar também".


"Assim, criamos um grupo de WhatsApp e marcamos de nos reunir para uma batucada na praça da Gentilândia, no bairro do Benfica em Fortaleza. Desse modo, o coletivo reuniu necessidades de expressão e pertencimento de cada brincante, tendo como objetivos o desejo por "batucar, cantar e dançar em um espaço seguro." - pe pePe, em entrevista à Guilhotina.
Fonte: Instagram do coletivo (@batuqdelus)
Fonte: Instagram do coletivo (@batuqdelus)

Formado por jovens LGBTQIAPN+, constituiu-se como uma ferramenta de união, partilha de saberes e vivências, proporcionando também um acolhimento e segurança para os integrantes. "Conforme fomos caminhando e afinando os laços, fomos percebendo os diversos propósitos que o coletivo pode ter, sendo um espaço de articulação sociocultural e comunitária, gerando espaços de compartilhamento e fortalecimento das relações transcentradas e também tendo um potencial político muito forte, trazendo visibilidade às identidades não binárias que são tão invisibilizadas."


Nesse contexto, embora estimativas afirmem que o Brasil tem 4 milhões de pessoas trans e não binárias, o país segue como o que mais mata indivíduos dessa população no mundo. Encontrar em um coletivo a possibilidade de sentir-se seguro e acolhido é, portanto, um diferencial que destaca o BatuQ DelUs e traduz sua potência na vida de cada artista. Além disso, o grupo também destaca-se por unir elementos da cultura popular com a atualidade e somá-los como um espaço de identidade e resistência. 


Batuq Delus na 2°a Marcha Trans de Fortaleza / Foto: acervo do coletivo
Batuq Delus na 2°a Marcha Trans de Fortaleza / Foto: acervo do coletivo

Conforme citou a integrante Tauari, na Marcha Trans de Fortaleza: "a cultura popular sempre teve pessoas dissidentes, sempre teve pessoas com sexualidades diferentes, com gêneros diferentes, sempre houve isso. E, de alguma forma, conseguiram nos apagar, mas agora a gente tá voltando com força para mostrar que a gente sempre esteve aqui, que a gente sempre produziu cultura, que a gente sempre produziu música, alegria; para mostrar a nossa força, a nossa firmeza". Essa característica do grupo é um marco na juventude do Ceará, por traduzir a junção de jovens e uma partilha musical da culturalidade popular cearense.



O coletivo já conseguiu aprovar alguns projetos em editais e receber cachês que são utilizados para fomentar o grupo, disponibilizando transporte e alimentação. "Assim, gerando acesso das pessoas trans à vivências da cultura popular, que infelizmente carregam muitos enrijecimentos no campo do gênero."


O perfil histórico do BatuQ DelUs integra a juventude trans, não binária e LGBTQIAPN+ cearense, sobretudo pela força gerada na expressão artística, no processo de pertencimento e identidade trazido pela "força dos encontros" que percorre a coletividade musical da cultura popular. Pensando nisso, a Guilhotina traz alguns trechos das falas dos integridades entrevistados à respeito da importância que o coletivo tem para cada um.


1. Amon


"A importância do BatuQ DelUs está nos encontros semanalmente, que nos servem tanto no fortalecimento do coletivo como no aprofundamento das brincadeiras populares. Ali somos uma rede que conflui em diversos campos de uma vida coletiva. Nos encontramos para tocar, dançar, brincar, vadiar, pesquisar, compartilhar a vida. Assim, o Batuq se faz importante na contrução de um cotidiano cheio de vida para pessoas trans. Para que nós não estejamos sozinhes no dia a dia e que assim a gente encontre as nossas potências também, realize nossos desejos, encontre caminhos, reafirme nossas identidades, construindo um lugar seguro para corpos travestigêneres brincarem a cultura popular."


Foto: @ogabi.pe no Instagram
Foto: @ogabi.pe no Instagram

2. Gabi 


"Eu acho importante para nós, como senso de comunidade que a gente tá desenvolvendo e desenvolve. Acho muito empoderador e importante saber que você não está sozinho, que existem pessoas no mundo existindo e fazendo coisas, logo, você, pessoa dissidente, LGBTQIAPN+, também pode. E ainda mais ligado a cultura popular, né? Que ainda é bem binária e heteronormativa. Então, é isso, empoderamento, senso de pertencimento, inspiração."


Foto: @pe_p.p no Instagram
Foto: @pe_p.p no Instagram

3. pe Pepe


"Sou muito feliz em fazer parte dessa coletividade. Acredito que na cidade sejamos a coletividade trans com maior número de pessoas e com um convívio de qualidade, mesmo enfrentando vários desafios pelas violências que passamos no dia a dia. Justamente por conta da força do brincar, conseguimos nos acolher frente a tantos malefícios da cidade grande. Fortalecer a voz não-binária na roda é nosso mote e vamos fazer isso com muita alegria por onde passarmos! Queremos dizer que todes podem brincar e merecemos ser respeitades onde chegarmos, podendo vivenciar aquilo que nos pertence, aquilo que é da terra e nos dá força para existir nesse mundo."


O BatuQ DelUs não é apenas um grupo, mas a força da coletividade popular transcestral e LGBTQIAPN+ do Ceará. É o batuque que resiste em meio à selva de pedra e faz ecoar vozes historicamente invisibilizadas, que agora tem a partilha de vivências e saberes transformadores em um espaço seguro para cada um que o compõe.


Conheça mais sobre o coletivo no perfil do Instagram: @batuqdelus


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